Uma estrada de terra seca, no meio do deserto.
O Sol quase se pondo, encontrava-me sozinha, num silêncio quase absoluto, não fosse uma música que movia o mundo. O Sol não iluminava muito, o que iluminava eram luzes piscando, cada hora em um lugar, como se houvessem diamantes espalhados pelo chão seco, como se as plantas tivessem espinhos de cristal.
Ouvi um barulho de cascos, era uma carruagem que carregava um caixão. Olhei dentro dele, a fim de ver quem era: uma mulher muito bela, com uma rosa vermelha ao lado de seu rosto. Enquanto eu via a rosa, ela começou a escurecer nas pontas, até ficar toda negra e torcida. Observei a carruagem indo embora, quando notei que, onde ela passava, tudo se transformava em vidro. Um medo veio, de súbito, pois percebi que seria encurralada pelo vidro, que vinha avançando na minha direção.
Corri, mas não rápido o suficiente, quando percebi estava completamente cercada por maciças paredes transparentes que me sufocavam. Não havendo lugar para ir, decidi entrar no vidro. Dentro dele, a sensação era como se eu estivesse andando em meio a um mar de gel denso. Movia-me com dificuldade. O vidro começou a expandir, até rachar-se, e precisei fugir das rachaduras. Fiquei ilhada, pois as fronteiras ofereciam maior resistência para mim, por isso dirigi-me ao ar livre novamente para me livrar daquela coisa que me sufocava; precisava nascer de novo.
Com um grito longo, icei-me para fora. Olhei à minha volta e vi, de um lado, um campo aberto, com montanhas ao fundo; do outro, uma floresta densa, cheia de árvores altas de grandes espinhos que lembravam lâminas de espada. Desviando, consegui penetrar na floresta e subi numa árvore. No alto desta consegui ficar de pé e comecei a olhar de cima a paisagem.O rio de vidro tornara-se apenas minúsculas pedrinhas brilhantes, cortando tudo o que havia dentro dele, tudo o que havia sido preso por ele. Manchas de sangue apareciam aqui e ali quando começou a chover. A água diluía o sangue, os cacos de vidro moviam-se numa corrente contínua e confusa.
Descobri que podia voar, mas precisava desviar da chuva. Voava como se estivesse dançando no ar, até que vi um homem com o braço estendido sendo esmagado pelos cacos de vidro; fui salvá-lo. Voei, puxando-o até a outra margem do rio e o coloquei no chão. Era tarde. O homem emitia uma luz fraca e etérea quando começou a levitar, pairando dois metros acima do chão. Suas feridas se fechavam, enquanto ele passava para uma nova dimensão, a qual eu não conhecia. Corri para o alto da montanha, a fim de observar melhor o lugar. Seu corpo soltava um último feixe de luz, muito longe de mim. Quando o olhei de novo, ele estava no chão, inerte e opaco. No céu, as nuvens escuras afastavam-se e, por um buraco entre elas, o sol passava, envolvendo minha visão com luz laranja. Fiquei assim algum tempo, admirando e sentindo a cena. Ao mesmo tempo que era bonita, me passava uma sensação ruim, queria sair dali.
Abri os olhos.
Tudo desapareceu.
sábado, 3 de junho de 2006
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