Looking through a Glass Onion

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When I get to the bottom I go back to the top of the slide, where I stop, and I turn, and I go for a ride

sábado, 30 de junho de 2007

Reconciliação

A cidade amanheceu branca. E continuou branca, imensamente branca, assustadoramente branca. Aquela monumentalidade leitosa que se erguia à minha frente torcia-se em volta dela mesma, concreto em cima, concreto embaixo, ocupando até o céu. Os prédios todos pareciam voar. A cidade flutuava.
Minha porção selvagem não podia entender aquelas linhas todas, muitas linhas, muitas. Poucas cores. Era tudo branco, era tudo cinza, de vez em quando vermelho.

Estaquei em cima da passarela de nuvens, observando tudo ao meu redor.
Que cidade linda.
Linda!

E fiz as pazes com meu paraíso geométrico.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Lápide Urbana II

Na passagem estreita e colorida, vi brilhando água corrente, uma mulher não tão colorida derramava o líquido no chão para lavar alguma coisa. Aquelas vidas pouco notadas, cinzentas, enchiam-se de cor ao Sol limpo e claro do meio-dia.
Me enchi de afetos por aqueles rostos marcados das cicatrizes que o desprezo e a indiferença causaram. Me enchi de simpatia pelo sorriso branco e espontâneo que brotava do menino solto a gingar e andar naquele cantinho: ali era seu mundo.
Ao tentar me aproximar, bati numa parede invisível. Uma divisória fria e dura que a cidade impôs. As pessoas continuaram andando, correndo em suas rotinas ridículas, mas não vi ninguém tentar cruzar a linha - ninguém! Só eu, tola, me iludia pensando que um olhar, um gesto, poderiam desfazer aquela muralha medonha à minha frente.
Em vão acenava para os "do cantinho". Um velho chegou-se até a fronteira, sem tentar cruzá-la, cantando.
"Ouça-me bem, amor, preste atenção, o mundo é um moinho..."
Eu tentava chamá-lo para o meu lado.
"...vai triturar teus sonhos tão mesquinhos..."
Outro se aproximou.
"...vai reduzir as ilusões a pó..."
Parei de chamá-los freneticamente. Percebi que eles haviam aprendido, depois de muito insistir, de muito se frustrar, que aquela divisória (apesar de invisível) era mais sólida que pedra. O velho olhava meus olhos, e eu os dele.
"De cada amor tu herdarás só o cinismo..."
Mas que olhos tristes! A boca sorria ao cantar, seus gestos eram largos e leves, mas que olhos fundos...
O outro estacou, de repente. Sem olhar diretamente os meus olhos, disse triste e secamente:
- A gente tá do outro lado...
E virou-se sorrindo fraco para os outros, continuou o que estava fazendo. Mas eu vi, eu vi! o que ninguém mais viu: todos eles eram lindos, eram lindos, e aquela voz que cantava foi a mais sincera que já ouvi.
Despedi-me deles com um aceno e o menino que gingava soltou aquele mesmo sorriso branco; ainda assim vi uma lágrima tão sincera e terrível quanto a muralha que nos segregava.




*a música citada é "O mundo é um moinho - Cartola"

Borra, Pinta (paródia de Roda Viva - Chico Buarque)

Tem dias que Azeite se sente
Como quem toicinho comeu
Azeite peidou de repente
Ou foi o Tietê que fedeu?

Azeite quer ter lactopurga
Mas infelizmente não dá
Ele não dissolve na água
Porque o Azeite é apolar

Borra tudo, chili picante
Também peixinho, atum, pirão
A merda borrou num instante
Teve que usar papelão

quarta-feira, 27 de junho de 2007

FLAP!

por Ana Rüsche

"Precisar o que seja a FLAP! é tarefa que não pretendemos cumprir – exatamente para isso temos o concurso sobre o que significa a sigla F.L.A.P., hehe. Entretanto, é muito interessante ver como na internet espalha-se a notícia, basta digitar “FLAP 2007” no google.

Há desde os amigos apoiadores como o Germina Literatura, o Cronópios e a Selva e os amigos discretos como a poeta Ana Ramiro.

Já o Ademir Assunção rasga: “É a turma do Projeto Identidade e do Jornal Casulo agitando o pedaço e abrindo espaço. Ferro na boneca, cambada, como diriam os antigos romanos”.

Ou então o adorável Tadeu Sarmento com suas reflexões: “Eventos literários são de um constrangimento maravilhoso, pois é constrangedor assistir a um escritor ou a um poeta falando em público. Estou com Evandro Affonso Ferreira quando este diz que é um passarinho, não um ornitólogo, e que por isso não é capaz de teorizar sobre sua obra. Como dizer aquilo que se escreveu, com outras palavras além das já escritas na página? De qualquer forma, não perderei a http://flap2007.zip.net/ deste ano, que dentre outras maravilhas, desentocará o genial Juliano Garcia Pessanha, direto das intocáveis esferas da coruja de Minerva. Sim, é imperdível. Constrangedor, mas imperdível”.

Ainda na versão do Ivan Hegenberg: “Eu estarei lá, sábado e domingo na Praça Roosevelt, com uma bancadinha de camelô vendendo Será aos desavisados".

Por fim, há as primeiras coberturas desse ano, como a matéria do O Tempo e a chamadinha no Portal Literal: “A minoria apaixonada por literatura não faz feio e comparece em peso aos eventos, fazendo com que cresçam a cada ano. Chegando à terceira edição, a Flap!, que acontece entre 29 de junho e 1º de julho em São Paulo, firma-se nesse cenário festeiro com uma programação que se orgulha de "encarar sem reverencialismo a obra literária e seu processo de criação, evitando que a reunião dos membros das mesas se transforme em motivo de espetáculo por receber 'celebridades culturais'. Como diria Paulo Francis, WAAL”.



Ao menos todos acertam, pois FLAP é lá o que vc quiser."


http://docs.google.com/View?docid=ddbwjx84_52fwkcv8

terça-feira, 19 de junho de 2007

Meu Querido MP3

Eu me sentia extremamente ansioso àquele dia. Já com o dinheiro na mão, na frente da loja, meu coração batia forte: ia comprar um MP3 Player. Mas que mundo de possibilidades abria-se aos meus olhos! A coreana da loja esperava minha decisão; às vezes tinha a impressão de que ela gostaria de me ver morto, tal era a expressão de felicidade em seu rosto.
- O que esse daqui faz?
- Dois giga.
- Eu sei, tá escrito, mas o que ele tem de diferente dos outros?
- Dois giga, cento e cinqüenta. Acende luz.
A informação não foi de todo esclarecedora, mas minha alegria permanecia inabalável. Escolhi o mais colorido e saí correndo feito um louco pela rua. Quase derrubei duas velhinhas que atravessavam na faixa de pedestres, quase caí num bueiro, mas, por fim, venci todos os obstáculos. Mal podia esperar para chegar em casa e passar minhas músicas para o aparelhinho mágico.
É claro que, logo em seguida, saí pelas ruas só para sentir o prazer de viver com trilha sonora. Sentia-me num filme dos anos 80, todos estavam diferentes ao som de uma música agitada cheia de teclados. Passei por cima de uma saída de ar do metrô e o vento agitou meus cabelos, parecia o Ricky Martin.
Oh! Aquilo era lindo! Desatei a cantar alto peas ruas, ignorando os olhares que eram lançados na minha direção a todo momento. Dançava, pulava. Sentia-me num clip do Michael Jackson. Arrisco-me até a dizer que dancei bem parecido!
Chegado um momento, sentia-me poderoso o suficiente para atravessar a rua dançando um moonwalk sambado. Não me pergunte que raio de dança era aquela, foi o mais perto de uma descrição que consegui chegar. Fui atravessando, olhando pro céu, olhando pro chão, as mãos balançando freneticamente, admirando o movimento rítmico de meus pés. No clímax de "I Will Survive" dei uma pirueta impecável.
Não ouvi a buzina do carro, nem o barulho dos pneus derrapando: a música nos fones estava alta.
PÁF!
"I will survive..."





Tem mais não.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Rivaldo e Jenina


Antes de ler a historinha em quadrinhos tem que assistir o vídeo do Prabhu Deva, senão não dá pra entender
Aproveito para dar os devidos créditos à garotinha criativa que senta todos os dia do meu lado na classe, sempre me ajudando a fazer as coisas mais imbecis possíveis. Sim, é a Mari: sem sua colaboração, esse majestoso trabalho artístico seria impossível HAHAHAH
Apreciem com moderação

Asas de Névoa

O vidro embaçado a impedia de exergar lá fora. E, se enxergava, era a neblina que a impedia de enxergar além. A névoa sorrateira enganava e escondia tudo em volta, transoformando aquele momento em branco e cinza e só.
Ninguém para levantar e ir apagar a chama de fogão, mas não havia problema, ela gostava de observar o fogo; aquele azul brilhante enchia seus olhos de calor.
Sentia aquele momento vazio, sem emoções nem acontecimentos.
Só ser.
Ser só.
E era bom.
Cruzou os braços, ouvindo os sons de dentro do apartamento. Quase nada. Um estalo aqui, outro ali: era a madeira adaptando-se à mudança de temperatura. O Sol se ia levantando e com ele, a neblina. O contorno de prédios tornava-se pouco a pouco nítido; antes como um borrão difuso no horizonte que como recortes recentes numa folha de jornal.
Seus sentidos estavam dormentes, mas ela sabia que nunca tivera tamanha consciência de si como naquele momento frio.
E era bom.
O piscar de olhos foi-se rarefazendo; sua respiração rasa e lenta. Já não era preciso ajeitar-se na cadeira, sua alma estava confortável e invadia aquele instante.
A carne tornara-se agora desnecessária. Lentamente viu-se separando de sua mente. Com um último esforço, descobriu-se livre.
Livre.
.
.
.
.
.
.
.
E voou.

domingo, 10 de junho de 2007

Corredor

O teto do mundo era o teto da casa era o teto da moça era o teto do mar era o teto do chão era o céu da boca era o amor da garota era o bafo do forno era o ódio nos olhos era a gota de horror.
O fluxo da boca o instante as palavras de dor a loucura massante nas pupilas -- a cor.

O sentimento pulsante
A queda
O humor
A miséria
O errante
O infeliz
.
.
O Pavor.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Comentário do Elias

Eu tava relendo todos meus textos aqui, ficando louca ao ver coisas antigas que hoje acho uma bosta, até que eu me deparo com esse comentário do doente do Elias ahahhahaha

Simplesmente demais.

"elias said...
Historinha budista que minha mãe me contou:
Certa vez, havia um Cavalo, deprimido e triste, e seu dono não via outra saída a não ser sacrifica-lo se ele continuasse a ficar deitado e sem vontade de viver. Até que o Porco, seu amigo, ia todo dia animar o cavalo, dizendo que ele seria morto se continuasse daquele jeito.Insistia, mas o Cavalo ali, em depressão, sem vontade de se levantar.
Faltavam poucos dias para que o fazendeiro, praticamente sem esperanças de ver seu cavalo de pé novamente, sacrificasse o cavalo. Enfim, depois de muita luta, o Porco consiguiu animar o Cavalo, que então se levanta.
O fazendeiro, feliz, por ver seu Cavalo em pé de novo comemora:
- Vivaa, meu cavalo esta bem de novo! Vamos assar o porco e dar uma festa!
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Moral: Sinceramente, ainda não descobri."