Looking through a Glass Onion

Minha foto
When I get to the bottom I go back to the top of the slide, where I stop, and I turn, and I go for a ride

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Gilded trodden trail

-Tu amarás! Essa será minha vingança para contigo! Será inevitável se doar por completo a uma dor latejante, a uma dor que dói de dentro da alma, até a cabeça, até a barriga, até as pernas, que gela a espinha, que esfria o estômago, que revira os sentidos. Essa tua dor te viciará, entregue a uma sensação que só se resolve na presença, e que piora a cada instante, pra teu pesadelo, que aumenta a cada beijo, que se agiganta a cada respiro, a cada toque e olhar. Deverás entender que o amor é a regra de tua vida, e que apenas entendendo o princípio básico do universo, da doação, é que entenderás que seu amor que te revira por inteiro pode ser vivido sem dor.

domingo, 18 de outubro de 2009

Beatles

Love is old, love is new
Love is all, love is you.




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And in the end
The love you take
Is equal to the love
You make

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Ma Fleur

Transe insensato de sensações
Trânsito incessante de fatos
Inconsciente.

Transe induzido, alucinações acinzentadas, não adianta tentar colorir
Poderia desenhar, não fossem minhas mãos engessadas por uma vontade de não estar, de estar de outra forma, talvez estar numa outra hora.

Impasse de tempo: entre o tempo que existe e o tempo que eu gostaria que existisse, existe um espaço amplo, e nem bem consigo enxergar onde se encontram... talvez ali à frente, ali, numa curvinha que não está tão longe assim.

O transe se mantém, alimentado pela música que soa diferente, de uma forma que meus ouvidos não estão habituados. Mas também não presto tanta atenção assim, essa é a verdade.. Por isso, o transe.

E é inevitável voltar ao pensamento corriqueiro, pensamento de semanas, de vontades, de saudade da presença que nem chegou a se fazer completa. A presença imaginada, desejada. A presença real foi bloqueada. Meu corpo a bloqueou. Por quê? Por que a fala se fez tão difícil, tão quebrada, por que os olhares perderam o sentido que há pouco nos dizia tudo o que era necessário?

Não quero me despir para um público imaginário.
Pior do que estar nua diante da platéia, é estar nua diante de uma sala vazia de teatro. Eis uma cena triste. A nudez tão crua do corpo quase violenta o silêncio das cadeiras. A atriz descalça se move com suavidade pelo chão escuro do palco, o silêncio a observa. Sua nudez mostra mais que suas coxas, seus braços escancarados, o movimento dos cabelos. Sua nudez mostra sua alma inteira, exposta, sua falta de proteção mancha a pureza do centro do corpo. Exposição lenta. A nudez que se fez de repente, que apenas surgiu, se mostrando para o silêncio, envergonha a atriz.

Por que me envergonho? Por quem me envergonho? O corpo é belo, a luz realça as linhas do pé enquanto o corpo dança na ausência de som. Dança rodopiando tão triste, circulando a própria vida, é a própria imagem da solidão.

Súbito, existe um observador na platéia. A moça já não está despida para a sala vazia. Sua dança agora faz sentido. Sua dança agora tem alma, tem razão de ser. Alguém está observando os contornos dos músculos que são tão delicados quanto a alma que se deixou manchar no silêncio do teatro. Já não é mais a marca da solidão, e sim o símbolo de uma união distante, imperceptível, de uma simbiose muito delicada: o espectador se alimenta de sua imagem brilhante, respira seus movimentos, sente-se parte de sua dança. A atriz agradece por poder doar-se tão completamente a um estranho, profundamente emocionada ao ver que movimenta o mundo daquele homem sentado na única cadeira ocupada, feliz, porque a solidão não faz mais sentido entre o silêncio dos dois naquela sala tão grande.

Acaba o espetáculo, e a melancolia cai mais triste do que nunca. O homem já não é mais alimentado pela nudez fria da garota, ela já não é capaz de fazer o mundo do observador silencioso se movimentar.


Então vão-se os dois, conversam porque é preciso, mas a comunicação já não se faz com eficiência, e a solidão se instala novamente.



É preciso despir-se. É preciso estar só.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Clarice Lispector (tadinha!)

Estava nas minhas andanças pelo orkut e eis que me deparo com um texto de um profile. O texto é o seguinte:

"A menina que aos poucos foi trocando a barbie por maquiagem. Trocando seu mundo de sonhos pelo da realidade. Hoje sua vida segue em frente...O passado não importa.Ela vive o presente!!!
A garotinha que cansou de acreditar que contos de fadas começam com “era uma vez” e terminam com “um final feliz”...
Sou muito mais que essas letras, frases e fotos que falam sobre mim...
Sou as minhas atitudes, os meus sentimentos, as minhas idéias...
O que realmente faz valer a pena estar vivo, não há filmadora ou máquina fotográfica que registre...
Surpresas, gargalhadas, lágrimas, enfim, o que eu sinto, quem eu sou, você só vai perceber quando olhar nos meus olhos, ou melhor, além deles...
Posso até ser pequena pra quem vê...Mas gigante pra quem ama!!!"


O texto era exatamente escrito assim, com todas essas reticências. Quem me conhece sabe como sou irritada com esses textos todos pontilhados. A galera não sabe usar reticências, e acha que quando vai fazer um desabafo PRECISA desse tom melancólico-deprimido-arrependido que as reticências em excesso podem dar. É um horror, uma cagada.

E aí li o nome do(a) autor(a). Clarice Lispector. CLARICE LISPECTOR. Alguém percebeu algo de errado? Coitada da Clarice.
Bom, vamos fazer uma análise do texto.

1. O fato da menina trocar a barbie pela maquiagem quer dizer que ela deixou os sonhos pra adentrar a realidade. Quer dizer que, primeiro, a infância é irreal, e segundo, a realidade é a maquiagem. Podemos entender, diante disso, que o sonho sublime da garota é tornar-se uma adulta igual à Barbie. Viva a realidade!

2. "A garotinha que cansou de acreditar que contos de fadas começam com 'era uma vez' e terminam com 'um final feliz'..." OK. Em vez da idiota entender que contos de fada são ficção, a menina decide interpretar que tudo bem, contos de fada existem, mas não têm final feliz! Ó meu Deus! Como é triste a vida. Ela decide viver a vida como se tivessem capítulos, em vez de entender que a vida é contínua e complexa demais pra caber na linearidade da narração.

3. Já no meio do texto encontramos o crème de la crème do pensamento sublime da garota. Ela é muito mais do que essas letras, frases e fotos podem falar! Fotos não dizem tudo o que ela é. Podemos notar que esse texto é muito marcado pela geração orkut. A marca da vida como fotografia, da vida como registro, do "só vivi pq tem foto", só foi possível hoje, e obviamente a Clarice Lispector nunca escreveria isso. Porque isso simplesmente não era parte da vida naquela época! Ela viveu a infância na década de 20, é de se supor que câmeras fotográficas não eram o objeto mais portátil que se pode imaginar, naquele tempo.

4. Por fim, vamos comparar fatos.
Barbie: A barbie foi criada por Ruth Handler e o seu marido Eliot em 1959. A ideia foi de Ruth ao ver sua filha Barbara brincando com bonecas de papel que trocavam de roupa. Ruth então teve a ideia de criar uma boneca que iria permitir o mesmo, ou seja, trocasse de roupa. Associando-a à moda, a Barbie tinha uma feição adulta, diferente das bonecas da época. Assim, a imagem da Barbie sempre foi a de uma top model, símbolo de beleza refinada e juventude.

Clarice: Clarice Lispector, nascida Haia Lispector (Chechelnyk, 10 de dezembro de 1920 — Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1977) foi uma escritora brasileira, nascida na Ucrânia. Autora de linha introspectiva, buscava exprimir, através de seus textos, as agruras e antinomias do ser. Suas obras caracterizam-se pela exacerbação do momento interior e intensa ruptura com o enredo factual, a ponto de a própria subjetividade entrar em crise.

Bem... a Clarice Lispector não deve ter brincado muito de Barbie com 39 anos HAHAHAHAHAHAHAHHAHA.


E fim de papo.

sábado, 10 de outubro de 2009

Do lado de dentro

O dia nascendo lá fora. Arvorezinhas sussurrando, céu azul escuro, degradê de luz sutil.

Um rosto que domina a cena, invade todo o palco, só o rosto importa. Iluminação agradável nos olhinhos não muito grandes, olhos escuros que me procuram e me invadem com ardor suave.

Dia nascendo fora da janela. Iluminação verde e clara, rosto e rosto, muito perto, tão bonitos são os dois. A alma sai das entranhas lá do fundo onde costuma ficar escondida, protegida. A alma quase salta pra fora pelas mãos, pela pele, pelo tato. Alma guiando corpo.

Olhos e olhos, pupila e pupila, muito próximos, muito se olhando, muito colados; escutam atentos a respiração relaxada que emana, ora um, ora outro. Dia nascendo é bonito.


A poesia se formando a pequenos tropeços, passos incertos, um pouquinho de vergonha, muita curiosidade, sorrisos e risinhos, nariz boca olho, o pescoço de pele macia, a voz que contorna os silêncios, mãos bonitas. A poesia se formando no dia nascente, o que a torna muito mais bela, o que a torna minha.

Sol surgindo e faiscando os olhos negros que perguntam, incertos. É a boca que vai responder, muda, sem som, apenas com intenção, com vontade, com verdade. O diálogo se faz natural, sem pressa, sem erro; a quietude da madrugada que acaba de se transformar em dia claro, em luz que domina tudo.

Dia nascendo; não vá embora, não, não vou, eu volto, sim, volte sim!
Dia já claro, não foi sonho.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Luz dos olhos

Uma linha curva brota no papel. A partir dela, uma outra, que a encontra no final. Vou preenchendo com a caneta, sem presa, preto, preto, preto, e aquilo vai crescendo na minha mente e na minha visão. É meu mundo que está saltando a olhos vistos, saltando, pulando, tão belo, me agrada, é tudo aquilo que tem dentro de mim.

Assim vão surgindo várias partes de mim.
Pedaço de mim, que me arranca do meu sono, vai circulando, me envolvendo, vou parar pra olhar pra sacada. Às vezes a visão me surpreende. Mesmo. Mesmo sendo São Paulo, mesmo sendo às vezes meio marrom no horizonte (horizonte marrom? que porra é essa?). Consigo enxergar todos os movimentos da atmosfera, porque aqui é alto. E aí eu vejo as faixas de chuva que vão se mexendo, vão embora, voltam, ficam... E circula, circula, circula.

Os círculos vão me fechando.
São círculos concêntricos, mas o que há no de menor diâmetro? Não consigo enxergar. Estou no alto, e só vejo o círculo externo.

Cadê o círculo pequeno? O que há nele? Tenho consciência de que é nele que está a resposta. Mas não sei bem a pergunta, acho que já a esqueci. É bem provável...


Circulando.. Fluindo! Tudo o que me motiva é fluido. Não quero nada opaco, imóvel, irritante. Gosto do barulho de circular.......

E aí eu páro. Não está saindo do jeito que eu queria.
Eu costumava começar a escrever, e uma hora começava a sair algo que eu gostava. Eu cortava o começo e dali surgia algo que eu dizia "Isso é bom!" e ficava feliz. Mas não sei se é esse o caso! Nada está surgindo, mas eu vejo símbolos, eu me vejo aqui, nessas linhas. Nos círculos, no que é fluido, no que é mistério.

Vou me descobrindo ar. Sempre fui a garota do vento, e de repente me encontro brisa. Sempre circulando...
Leveza, fluidez, oculto.

Quero ser leve. Quero flutuar, criar, me permitir planar na minha mente, mas o que é isso que está me puxando? O medo de voar pela primeira vez, velho conhecido de nós todos, de toda a história, medo de voar.....

Circulando.

É belo o que vês? Queria abrir tua cabeça para enxergar como enxergas, porque o brilho nos olhos é tão intenso, há de ser algo bonito que está à sua frente!

E pela primeira vez falo em "tu", já que sempre pensei em "eu".
O mundo de "tu" é mais bonito que de "eu", e eu o invejo, e eu o desejo. A ti. A todos os "tis", porque o que há de beleza no mundo é o que na retina transparece.

Uma supresa agradável: consigo ver os olhos. consigo olhar nos olhos. São belos, estes! Olhos que não me incomodam e não me questionam, mas que enxergam, não posso me disfarçar de ti. Já nesse caso, não existem mais "tis", unicamente um "ti", e só um.

Cadê os olhos? Não me aparecem, eu os procuro, não os conheço, não sei onde achá-los, será que existem? Será parte do que existe na minha própria retina, minha própria fantasia que mostro pro mundo, meu universo que cria, sempre circulando, sempre ondulando, sempre ventando?

Olhos que somem. Se fazem fumaça, se espalham pelo ar, se misturam ao vento, ao vento? Não sou eu o vento? Então acontece o improvável: o vento se faz brisa, e circula, circula, reúne a fumaça, refaz os olhos, transforma a retina, implode em pedacinhos de asas.

Teve medo de pular? Teve medo de voar? É difícil de dizer. Agora me refiro a "ele", ou "ela", ou até mesmo "eles". Sim, acho que tiveram medo de planar, ouso dizer que pensaram em voltar pé ante pé, sempre longe da fronteira, pé ante pé pra trás do penhasco, pé ante pé sempre pra trás.

"Ela" vai pular. "Ele" pulará? Examinemos as retinas de ambos.
Ela tem a retina brilhando, colorindo e pulsando. O sangue bate nos olhos, pede por lágrima. Ele. Não se enxerga sua retina. Vê-se a íris inundando tudo, e o preto dos olhos se mistura à pupila, posso ler sua alma. Criptografada. Que belo!

Pulem, os dois. Peço-lhes, voem, mas cadê os olhos? Cadê os olhos que implodiram junto com o vento, a fumaça, pequeninos pedaços de asa?

Digo: "Parece sonho."
Diz: "Parece sonho."
Digo: "Vou voltar a ser vento; se assim for preciso serei tempestade, se assim me pedirem serei brisa. Volto a ser ar, atmosfera e a flutuar. Fluir. Não aguento mais terra, mãos sujas de barro, unhas cheias de pedrinhas; não aguento mais chão duro que dói o calcanhar, vou viver descalça."
Diz: "Pois bem. Posso ir com você. Serei a energia que faz da brisa vento, do vento vendaval, do vendaval furacão. Podemos juntos ser círculo, muitos círculos, sempre ondulando... Aceito tua presença."

Não digo mais.

Quantos casamentos assim se fizeram? União de movimentos, energias que se infinitam, existe beleza nas forças.

O pequeno círculo que está bem no centro do grande círculo, aquele que é muito pequeno, que quase não se enxerga. Bem dentro dele existe um ventinho... E é desse ventinho que vão respirando os mistérios da alma, aqueles tão profundos que nem ousamos perguntar. O ventinho vai ventando, vai subindo, invadindo um outro círculo, este um pouquinho maior, e vai subindo, até chegar na retina. O ventinho vira água que faz brilhar o branco dos olhos. Por apenas um segundo!


E foi nesse segundo que quase se afogou. Cadê os olhos?