Looking through a Glass Onion

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When I get to the bottom I go back to the top of the slide, where I stop, and I turn, and I go for a ride

domingo, 27 de maio de 2007

Lápide Urbana

Avenida e carros, túnel colorido de grafitti - tanta cor, tanta cor! Repentinamente, sombra. Não a sombra que projeta a luz e embeleza a cena - não! A sombra-vácuo, o cinza que engole e submete a cor. Triste contraste entre as formas lineares definidas na parede e as formas empoeiradas difusas no chão.
Tal é a impressão.
Cinza invade estas vidas: cinza de fome, cinza de sentimento, de esmola e cigarro. Cinza de fumaça, de palavra e gesto.
A figura murcha no chão confunde-se com o cobertor, com os papéis e papelões, lixo e restos - tudo cinza e marrom, tudo branco e preto.




Até que, por fim, funde-se ao concreto e some na cidade cega.

Sem dor.

terça-feira, 15 de maio de 2007

Tarde Branca

As palavras corriam, sem que ela entendesse
Seus olhos pulavam pela folha partida
Distraída.

A mente funcionva com pouca eficácia
A respiração arfava-lhe o peito sombrio
Vazio.

O riso rascunhava-se em seu lábio
Mas uma lágrima desbotou-lhe a vista
Despedida.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Poesia Neoliberal (comunidade)

To aqui vendo a novela
Tevê ligada no plim plim
Vou fazer um brigadeiro
TPM é sempre assim

Vou à esquina comprar um pão
Vou de carro, de ônibus não!
Tem um mendigo caído bêbado
Ai que nojo, pediu meu dinheiro!

Vou embora indignada
Essa gente é muito mal-educada
Vou lá pro Iguatemi
Ali eu compro e posso rir

Bolsa, roupa, cada jóia mais bonita!
Ai, que coisa, isso é que é vida!

No Audi que tá de olho o pivete
Eu escuto Chiclete, Babado e Ivete
Sou herdeira, não preciso trabalhar
A faculdade é só pra me ocupar

To me formando em Adm
To escutando CPM
Mexer com dinheiro, isso é legal
Intelectual é uma coisa sacal

Volto pra casa feliz da vida
Sacolas na mão, blusa de oncinha
Briguei com meu pai, vê que absurdo
Quer cortar meu cartão, que velho imundo!


15/01/07

Desmaio

Pensamentos no Trem III

Após poucos segundos de espera, surgem as luzes no túnel do metrô. A massa humana se aglomera para entrar no vagão.
Sinto minhas mãos trêmulas, os lábios secos. Sinto-me vulnerável, acossada, tal qual um animal sendo caçado. O metrô é a cicatriz máxima da cidade: frio, impessoal, todo concreto, sujo, desgastante, solidão. Arrasta-se arranhando as paredes das entranhas de aço.
Sigo minha marcha de estação em estação, pisando forte, os olhos vermelhos (poluição? desespero? talvez os dois). Caras passam por mim sem que eu me dê conta; bocas, braços, pés, mochilas. O céu lá fora é branco e é pior do que se fosse cinza.

A cidade grita, a cidade me engole, e o metrô abafa com seu barulho agudo a música nos fones de ouvido. Eu finjo que a sinfonia me acalma.
Aflição crescente brota no meu estômago em forma de ânsia. Sento-me na calçada, fora da estação, a mágoa que sinto das máquinas se esvai em sangue e concreto num espasmo de músculos.



A cidade berra, a cidade me engole, mas eu já não sinto mais.