Hoje é dia de morte. Dia de enterro. Dia de poeira e restos, concreto quebrado, dia de nuvem, de frio, pessoas escuras e cobertas, pé ante pé pra não cair.
Nenhuma sombra nem contraste, nenhum volume; iluminação sutil no bloco plano de cores duras.
Mas a paixão existe.
Existe?
É dia de corrente e prisão, ponto de ônibus lotado, tremor nas mãos
pressa, falta, ausência
remédio, lata, corte.
Há paixão, ainda.
Nas janelas verdes da varanda, o Sol atrás da água, andar distraído e cílios batendo, olhos que se encontram, crianças desajeitadas tentando sorrir.
Há paixão surgindo, batimentos cardíacos (me dói o peito), a alma se enchendo de uma perturbação irritante e comovente
amor em minhas entranhas.
Estranho calor.
Fluxo contínuo de fantasia:
Me protege das garras
do aço
do vento
do ódio
vazio.
terça-feira, 28 de agosto de 2007
segunda-feira, 20 de agosto de 2007
Pânico
Oh! Que barulho terrível! Piiiiiiiiiii...
Meus ouvidos vibrando como um sino, sem parar, sem parar. Os outros conversam ao meu lado. Não consigo ouvir. Não consigo nem mesmo entender, ler os lábios dos seres à minha volta, seres irreconhecíveis! Conversam animadamente e perguntam minha opinião.
-É.. Acho que sim.
Longe, muito longe, uma gota pingando no meu cérebro.
O sino continua vibrando no ouvido. A gota, o sino, os sons, tontura. Tudo vai girando e se misturando à minha frente, incontrolavelmente. Saio andando sem destino. Cruzo a avenida. Desço as escadas do metrô, pulo a catraca, ninguém viu. Que sentido? Vila Madalena, pode ser. O metrô em movimento, as pessoas me incomodam. Por que são tão silenciosas? Olham para fora para não cruzarem olhares, mal escondendo sua hipocrisia, já que fora do vagão há apenas a parede de concreto manchada que se move.
Este borrão me toma a atenção. Sinto-me no intestino da cidade. A sujeira, os restos, os rostos que passam terríveis pelas suas entranhas todos os dias. Somos o alimento e o excremento dos prédios delirantes.
Sumaré. Gosto daqui. Nunca parei nesta estação, nunca foi o meu destino, mas hoje eu não tenho destino.
Parei.
Os carros passando lá fora me fazem sentir uma comoção estrannha. O ruído nos ouvidos evolui para uma bateria atordoante e ritmada, me deixa aflita. Quero sair da minha cabeça a qualquer custo, que coisa horrível! O Sol entrando nas minhas pupilas e invadindo toda minha sanidade, preciso berrar, berrei.
Policial me carregando.
Havia desmaiado.
Me afasto dos braços do policial, estou melhor, não há com o que se preocupar. Não quero que ele perceba que estou enlouquecendo e definhando, não quero que ele veja a origem de todo meu torpor.
Estou sendo engolido, eu juro... Ninguém para me salvar. A sensação de impotência me tomando por inteiro faz meu coração pular. "Preciso fazer alguma coisa!!"
Pulei.
Acordo numa sala branca. Sala não, mais um clarão no vácuo que qualquer outra coisa.
Pi... pi... pi...
O som na minha cabeça já não é contínuo, tem o ritmo dos meus batimentos cardíacos.
Espere. São os meus batimentos.
Estou vivo e algemado com agulhas.
Vivo e não posso me libertar.
Vivo... E só.
- Boa noite.
Meus ouvidos vibrando como um sino, sem parar, sem parar. Os outros conversam ao meu lado. Não consigo ouvir. Não consigo nem mesmo entender, ler os lábios dos seres à minha volta, seres irreconhecíveis! Conversam animadamente e perguntam minha opinião.
-É.. Acho que sim.
Longe, muito longe, uma gota pingando no meu cérebro.
O sino continua vibrando no ouvido. A gota, o sino, os sons, tontura. Tudo vai girando e se misturando à minha frente, incontrolavelmente. Saio andando sem destino. Cruzo a avenida. Desço as escadas do metrô, pulo a catraca, ninguém viu. Que sentido? Vila Madalena, pode ser. O metrô em movimento, as pessoas me incomodam. Por que são tão silenciosas? Olham para fora para não cruzarem olhares, mal escondendo sua hipocrisia, já que fora do vagão há apenas a parede de concreto manchada que se move.
Este borrão me toma a atenção. Sinto-me no intestino da cidade. A sujeira, os restos, os rostos que passam terríveis pelas suas entranhas todos os dias. Somos o alimento e o excremento dos prédios delirantes.
Sumaré. Gosto daqui. Nunca parei nesta estação, nunca foi o meu destino, mas hoje eu não tenho destino.
Parei.
Os carros passando lá fora me fazem sentir uma comoção estrannha. O ruído nos ouvidos evolui para uma bateria atordoante e ritmada, me deixa aflita. Quero sair da minha cabeça a qualquer custo, que coisa horrível! O Sol entrando nas minhas pupilas e invadindo toda minha sanidade, preciso berrar, berrei.
Policial me carregando.
Havia desmaiado.
Me afasto dos braços do policial, estou melhor, não há com o que se preocupar. Não quero que ele perceba que estou enlouquecendo e definhando, não quero que ele veja a origem de todo meu torpor.
Estou sendo engolido, eu juro... Ninguém para me salvar. A sensação de impotência me tomando por inteiro faz meu coração pular. "Preciso fazer alguma coisa!!"
Pulei.
Acordo numa sala branca. Sala não, mais um clarão no vácuo que qualquer outra coisa.
Pi... pi... pi...
O som na minha cabeça já não é contínuo, tem o ritmo dos meus batimentos cardíacos.
Espere. São os meus batimentos.
Estou vivo e algemado com agulhas.
Vivo e não posso me libertar.
Vivo... E só.
- Boa noite.
quinta-feira, 9 de agosto de 2007
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