Looking through a Glass Onion

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When I get to the bottom I go back to the top of the slide, where I stop, and I turn, and I go for a ride

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Pânico

Oh! Que barulho terrível! Piiiiiiiiiii...
Meus ouvidos vibrando como um sino, sem parar, sem parar. Os outros conversam ao meu lado. Não consigo ouvir. Não consigo nem mesmo entender, ler os lábios dos seres à minha volta, seres irreconhecíveis! Conversam animadamente e perguntam minha opinião.
-É.. Acho que sim.

Longe, muito longe, uma gota pingando no meu cérebro.
O sino continua vibrando no ouvido. A gota, o sino, os sons, tontura. Tudo vai girando e se misturando à minha frente, incontrolavelmente. Saio andando sem destino. Cruzo a avenida. Desço as escadas do metrô, pulo a catraca, ninguém viu. Que sentido? Vila Madalena, pode ser. O metrô em movimento, as pessoas me incomodam. Por que são tão silenciosas? Olham para fora para não cruzarem olhares, mal escondendo sua hipocrisia, já que fora do vagão há apenas a parede de concreto manchada que se move.
Este borrão me toma a atenção. Sinto-me no intestino da cidade. A sujeira, os restos, os rostos que passam terríveis pelas suas entranhas todos os dias. Somos o alimento e o excremento dos prédios delirantes.
Sumaré. Gosto daqui. Nunca parei nesta estação, nunca foi o meu destino, mas hoje eu não tenho destino.
Parei.
Os carros passando lá fora me fazem sentir uma comoção estrannha. O ruído nos ouvidos evolui para uma bateria atordoante e ritmada, me deixa aflita. Quero sair da minha cabeça a qualquer custo, que coisa horrível! O Sol entrando nas minhas pupilas e invadindo toda minha sanidade, preciso berrar, berrei.
Policial me carregando.
Havia desmaiado.

Me afasto dos braços do policial, estou melhor, não há com o que se preocupar. Não quero que ele perceba que estou enlouquecendo e definhando, não quero que ele veja a origem de todo meu torpor.
Estou sendo engolido, eu juro... Ninguém para me salvar. A sensação de impotência me tomando por inteiro faz meu coração pular. "Preciso fazer alguma coisa!!"

Pulei.

Acordo numa sala branca. Sala não, mais um clarão no vácuo que qualquer outra coisa.

Pi... pi... pi...

O som na minha cabeça já não é contínuo, tem o ritmo dos meus batimentos cardíacos.
Espere. São os meus batimentos.
Estou vivo e algemado com agulhas.
Vivo e não posso me libertar.
Vivo... E só.





- Boa noite.

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