Pensamentos no Trem III
Após poucos segundos de espera, surgem as luzes no túnel do metrô. A massa humana se aglomera para entrar no vagão.
Sinto minhas mãos trêmulas, os lábios secos. Sinto-me vulnerável, acossada, tal qual um animal sendo caçado. O metrô é a cicatriz máxima da cidade: frio, impessoal, todo concreto, sujo, desgastante, solidão. Arrasta-se arranhando as paredes das entranhas de aço.
Sigo minha marcha de estação em estação, pisando forte, os olhos vermelhos (poluição? desespero? talvez os dois). Caras passam por mim sem que eu me dê conta; bocas, braços, pés, mochilas. O céu lá fora é branco e é pior do que se fosse cinza.
A cidade grita, a cidade me engole, e o metrô abafa com seu barulho agudo a música nos fones de ouvido. Eu finjo que a sinfonia me acalma.
Aflição crescente brota no meu estômago em forma de ânsia. Sento-me na calçada, fora da estação, a mágoa que sinto das máquinas se esvai em sangue e concreto num espasmo de músculos.
A cidade berra, a cidade me engole, mas eu já não sinto mais.
quinta-feira, 10 de maio de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
"os olhos vermelhos"... para de fumar maconha! hahaha! to brincando!
beijos!
Adorei seu texto! "O metrô é a cicatriz máxima da cidade" foi demais!
Beijos
Eca Bebê!
Você escreve bem.
Muito Bem.
Postar um comentário