Acordou. Tomou banho, se vestiu. Pente, cadê o pente? Alinhou a camisa com o cinto e o cavalo da calça. Pegou os sapatos, nivelou as meias, subiu as escadas para o café. Ficou irritado ao ver a manteiga fora do lugar. "Essa mulher não aprende mesmo! Coisa irritante!"
Pegou a mala, bateu a porta. Tropeçou na calçada. "Minto, logo existo". A frase reboando em sua mente. Não sabia mesmo o que fazer, estava descontrolado. Logo ela? Aquela que representava toda honestidade que ele jamais ousara acreditar existir - ela - mentiu pra ele. Mentiu mesmo, e ainda teve a coragem de citar uma frase babaca daquelas. Imbecil.
Continuou andando - quase corria - sem nem olhar à sua volta, e muito menos pedir desculpas a quem com ele trombava. Cruzou a porta de entrada do prédio preto onde trabalhava, subiu as escadas aos saltos. Vadia. Vadia, vadia, vadia. Me fazendo de trouxa daquela maneira! Se pelo menos fosse sincera ele teria como se defender, bloquear todo sentimento ou saber que não tinha jeito mesmo.
Chegou ao escritório onde trabalhava. Saiu do escritório onde trabalhava. Desceu as escadas. Saiu pelas porta, andou pelas ruas.
Caminhava mais calmo agora. Tinha total controle de seus atos. Girou a chave, deslizou pela casa. Olhou pela janela, olhou a sala. Sentou-se.
Silêncio absoluto, ela ainda dormia.
Gritos desesperados de dor invadiam a rua.
O policial:
- O que aconteceu aqui? Quem esfaqueou essa mulher?
Os móveis todos calculadamente revirados.
- Eu cheguei aqui e encontrei minha mulher assim!!! O filho da puta estuprou e matou minha mulher! Eu juro que não fui eu! - e o choro saía compulsivo, cobrindo o rosto do homem curvado.
(uma semana depois)
- Meu senhor, é este o homem que matou sua esposa?
- É ele sim. Prendam-no.
Era cruel, ele sabia. Fazer um inocente responder pelos seus atos... Mas era preciso. "Antes ele do que eu."
Minto, logo existo.
*Proposta de redação dessa semana pra escola (uma dissertação ou narração sobre a mentira, comentando essa frase infeliz "minto, logo existo")
Saiu esse treco doentio.
Será que vou ganhar zero por usar palavrão? hahaha...
sexta-feira, 28 de setembro de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
5 comentários:
Tenha certeza que ela morta pra aprender a nunca mais deixar a manteiga fora do lugar. haHAHAHAHA
Ficou do caralho!
Pegou um substrato bem sub da mentira, o tema da sua redação, e fez um miniconto bem bacana.
Só uma parte que quebrou o clima: a primeira pessoa, dos parênteses. Fora isso, está muito legal.
Só não entendi se o "entrou, saiu" foram atos um atrás do outro ou se o recurso foi usado para representar a insignificância que o trabalho tem para compor o íntimo das pessoas, neste caso, da mentira, que se recria até para si mesmo.
Acho que é a primeira vez que te leio em terceira pessoa.
Talvez você ganhe zero por não dissertar. Mas, sabe, você é capaz de pôr o zero à direita.)
e no dia que a capricho aceitar algo mais literário, mais rebuscado e menos pessoal, é, acho que publico algo assim.
no meio tempo, só me resta o nivelamento por baixo, pelo que se vê por lá, já que a verdadeira arte de escrever é rejeitada por mentes tão ordinárias. pelo menos nesse blog. (ele é mais dedicado às pautas, que exigem um tratamento mais pessoal e menos complexo de cada assunto, mesmo.)
quanto à sua redação... se você não ganhar um dez, será um desmerecimento.
sim, é um blog destinado a publicações para a capricho.
e, é, por um lado é ruim ter tantas regras e limitações, mas ao mesmo tempo é bom porque instiga a criação sob pressão, ao mesmo tempo em que existe uma certa competitividade para que o meu texto seja publicado, dentro dos padrões requisitados. é uma experiência, eu diria, e qualquer coisa do tipo só tem a acrescentar.
ah... o outro blog quem sabe um dia saia... por enquanto, ele se resume a textos em pedaços de caderno rasgados e guardados.
impetuosamente, (porra!), bom
triunfantemente anti-ético,
trincante, corrido, cativante
ministrado, bestial, escrivinhado
pau-no-cu
mosntro de tres mil cabeças és o ego
espero, ter, não, inflado, teu
porra, porra, porra
braços mãos e cú!
ehehhe "kes cara, bem doente"
Postar um comentário