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Que mais? Sim, havia também os meninos que se mantinham aparentemente alheios ao movimento da Fazenda. Era o caso de Lin. Não que se manifestasse abertamente contra alguma coisa, isso não, até que acatava as instruções e comia na hora certa. Mas nas horas vagas Lin gostava dos seus cachos. Gostava de se cheirar as axilas, estalar as juntas, lavar as intimidades. Levava tempos compenetrado, examinando cada detalhe do próprio corpo, parafusando o umbigo, achando graça nas mamilas, estudando o urbanismo das veias. Percorrendo as veias atingiu o coração e começou a compreender as pulsações todas. As vibrações. Talvez, por algum motivo, desgostoso das coisas em volta, Lin foi ficando todo para dentro. E foi ficando para longe, como que num oriente, como num tempo remoto, como um avô sábio, ficou feito um bos índicus. Já controlava de tal modo o coração que este nunca iria parar. Circulava pelas próprias artérias e chegou a explorar os nervos que levam ao cérebro. Daí poderia arbitrar a intenção de cada glândula, cada célula. Respirava com consciência. Com o pensamento poderia suspender a digestão agora, por exemplo. Mas Lin não praticava seus conhecimentos. Apenas conhecia, e sempre mais. Com isso se sentia forte, livre, dono de si, talvez até feliz. Foi o que alertou a vigilância de Katazan. Sem se explicar por que, Katazan não gostava da postura de Lin. Não sabia por que, mas implicava com aquele jeito assim. Então fazia-o trabalhar, e trabalhar puxado, do que Lin não se queixava por dominar os músculos. Suspendeu-lhe a ração, do que o organismo de Lin também não se ressentiu, posto que àquela altura já estava educado para tudo. Sem que Juvenal soubesse, Katazan começou a maltratar Lin. E Lin suportava tudo com uma serenidade que mais e mais irritava Katazan. Porque Katazan já não fazia outra coisa senão perseguir Lin. E como Lin não dava mostras de se sentir perseguido, Katazan passou a se imaginar prisioneiro, em vez de vice-versa. Afinal Katazan era ou não era o superior? Dentro do sistema vigente, Katazan era autoridade. Mas parecia que Lin inventara outro sistema. Um sistema metabólico que cá para nós não valia nada, que só contava dentro da cabeça dele, que Katazan não compreendia e nem tinha nada que parar para pensar e se preocupar. Mas Katazan sabia que Lin inventara outro sistema. E naquele sistema idiota talvez Lin pensasse que era superior a Katazan. Talvez nem existisse Katazan naquele sistema absurdo. E Katazan não agüentava mais aquilo. E matou Lin.
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sexta-feira, 2 de novembro de 2007
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