Looking through a Glass Onion

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When I get to the bottom I go back to the top of the slide, where I stop, and I turn, and I go for a ride

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Espera

É uma dor silenciosa: não provoca choro, não desespera, mas mutila pouco a pouco. É uma dor que inspira, descontrola e enlouquece. É o grito rouco e sem força que contrai a alma, é o olhar profundo deitado no horizonte, tentando enxergar além.

É o sentimento que ignora a distância e o medo, o coração que sente o calor da mão que se estende do outro lado do oceano, o pensamento que conhece um só nome, um só rosto, rosto que não pôde nunca contemplar.

É meu braço se estentendo e se alargando, atravessando terra e mar, até te envolver por inteiro: mente, alma e coração.

05/12/06

Cemitério das Árvores

Galho, terra retorcida
Silêncio complacente
A vida pára, interrompida
Cai a lágrima inutilmente

Respeito frente à morte
Das raízes
Da floresta

Da madeira resta apenas
O labirinto, decomposição
Serve agora moradia
Da aranha, verme, escorpião

Lápide indigente, escultura sombria
No cemitério das árvores
Desolação.

16/04/07



*falta a parte que o rafinha fez

Desordem

*treininho de palavras



A labareda laiva o labirinto langanho
Lápide do leito lacrimoso
Legítimo líder do lirismo limítrofe
Liturgia lívida do litígio
Longilínea lombriga loquaz
Loucura lutulenta e luminescente

Fremor frenético da forquilha
Forrobodó fleumático de flores
Fluindo
Ferroando
Fervedouro das focas falantes
Filáucica filarmônica

Metropolitanos metais mirrados
Marmóreo marulho mascando minha maxila

Minta
Mente

Monto
Monte

Manto
Pranto.

25/04/07


*é aconselhável o uso de um dicionário para entendê-la (já que eu usei um pra fazê-la hahahaha)
Nova modalidade de poesia: poesia de dicionário, inaugurada pela Mari.

Ode ao Uno Velho

A mancha verde no horizonte
Surge, barulhenta
Ruído roncando
Esforço sobre-humano
Batalha contra o solo pedregoso

Com tal bravura se mostra
Balança, torce, encosta
Estalos e batuques
No caminho tortuoso
Buscando as alturas
É o Uninho que nos segura

Seus bravios pneus
Sua lata viril
Tudo nele, ó amigos meus
Traduz a vida
De força
De luta
De amizade para com os seus

Até que um dia
No asfalto hostil
Torne-se apenas
Metal, borracha, vazio.

15/04/07




*ah, para quem não entendeu: poeminha sarcástico sobre um dia que fizemos trilha com o Uno.

Depoimento do Japa Anônimo

Estudo sempre o diainteiro
Desde a quinta série eu sou o nerdão
Papai elogia, me dá dinheiro
"Você vai ser médico, garotão"

Agora estou no terceiro
Colegial acabando, merrmão
No fim do ano eu sou o primeiro
Na Medicina Pinheiros eu sou o fodão

Vou me inscrever na faculdade
Galera me pinta, me zoa, me bate
Quero beber, mas sou menor de idade
Respeito a lei, nunca tomei nem um cálice

Na festa, todo, mundo se pegando de montão
Sou virgem, não sei dessas coisas, não
Volto pra casa, ligo o computador
Vou assistir a um vídeo pornô

Semana segiunte, viro malandro
Todas as cervejas eu tô entornando
A gatinha peituda já tá na minha
Já até cheirei uma carreirinha

Anos depois, só me fodi
Clínica de reabilitação e nostalgia
Mamãe chorando o futuro que perdi
A notícia derradeira: viciado em cocaína.

Soneto do Amor Romântico

17/04/07

Ver você assim tão boa
O dia inteiro tão fogosa
Me faz pensar que sim
Que queres vir comigo, enfim

Essa bunda tão formosa
Você sempre carinhosa
Nã sei se agüento assim
Quando você vai dar pra mim?

Você vem e me provoca
Com seu jeito carioca
E eu sempre só na punheta

Hoje vou mostrar minha'oca
Vou insistir, fazer careta
Te colocar de quatro, te deixar perneta






*pra descontrair hehehe
Poesia encomendada durante a aula. "faz uma poesia de sacanagem?"

ok, cá está.

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Uma voz

02/05/2006


Aquela voz calma e baixa, atrai a boca que se aproxima e se afasta, como querendo esbarrar, relutante, na outra, do outro... Mãos que se entrelaçam, querendo fundir-se, e depois disfarçam. O corpo trai o sentimento, se distancia e transparece uma aura santa, um romance infantil.
Olhos que não se fitam, por medo de ligar-se, para não mais soltar; alternam-se, cautelosos, temendo se encontrar.
Mente, Pensamento;
Pensamento mente.
Sentimento que não sabe se explicar.

O Meu Mundo

Estava lendo um livro, quando fui atingida por uma luz melancólica e difusa no canto dos olhos. Virei-me, atraída, quando vi uma oficina e vários homens trabalhando com uma grande lâmpada amarela no alto. Como estava no ônibus, a cena se passou rapidamente, fugiu aos olhos, mas não à mente. Ainda atingida pela impressão que a oficina havia deixado em mim, olhei para o lado, pela janela mais próxima, e notei que ficara extremamente sensível às cores que saltavam e dançavam à frente dos meus olhos.
Era uma sensação inédita. Qualquer lugar onde eu pousava os olhos era na cor mais forte que eu reparava; ao mesmo tempo reparava nos menores detalhes, detalhes estes que nunca haviam notado (mesmo tendo passado incontáveis vezes pelo mesmo lugar).
Naquele momento eu pertencia ao mundo e se mostrava para mim, quase se apresentando. Era a pura arte vivida, vívida, arte unificada, todas suas manifestações acontecendo ao mesmo tempo dentro de mim: o quadro pintado com pinceladas duras e frias que formava a paisagem de concreto, a música destoante e descompassada que pulsava na rua, a fotografia que saturava as cores e capturava detalhes arredios de muros e janelas, o teatro encenado pelos transeuntes e cachorros e balconistas e faxineiros...
Subitamente, não me atraía mais pelas cores lindas e vivas ao meu redor, tudo era escuro durante o pálido pôr-do-sol. A avenida ficou cinza, preta, marrom; contornos fracos e disformes dominavam a cena. O rosto fundo de uma mulher com olhar perdido.
O prédio manchado e sua tinta descascada.
O jardim abandonado verde-escuro e suas flores sem cor.

Só o que via era uma cena lenta e sem alma...
O belo e o feio contrapondo-se, os dois lados da vida da cidade. Tudo o que eu via misturava-se: o que era belo tornou-se feio, o que era feio tornou-se belo.
Aquela oficina iluminada despertou-me para o mundo pulsante ao qual eu pertencia. E o mundo passou a pertencer a mim.

Paulistana

Fachos de luz azul pela madrugada
Tudo se mistura no horizonte pálido
O céu cinza que reluta em nascer

Não há luz, não há estrela
Cigarros acesos na multidão em estado de parto
As ruas cruzadas, enroscadas, dão à luz um novo dia
Igual a todos os outros

Dormem.
Muitos ainda dormem
São figurantes da cidade calada
Personagens das espigas de concreto do horizonte entrecortado
Geométrico.

Venha, me siga
Suba comigo na torre de vento
Aqui faz frio, mas o Sol já nos alcança
Sente teus sentidos
A lágrima fria que reluta em sair de ti
Repara na tua vida que se esvai em cada respiro
Em cada copo
Em cada passo
Vês que tua mão já não tem força
É de gelo, de sangue, de morte
No espelho não reconheces tua face
Tua alma parece abandonar teu rosto estático

Refugia-te onde o aço, o caos e a lâmina não te alcançam
Sente a brisa úmida que lhe lambe os cabelos


Aborta teu dia que nasce
da obediência
e da dor.

Pensamentos no trem II

Mais um dia sendo espectador deste espetáculo desajeitado que o trem nos proporciona. O trem é onde todos nós ficamos nos olhando, como se olhássemos um espelho torto que nos mostra uma imagem distorcida. Todos são eu, ali, naquela hora. E todos os rostos são igualmente desinteressantes e entediados. Uma sala de espera.
Todos têm as pernas igualmente cansadas e as mãos sujas. O trem é um espetáculo que causa atordoamento.

Pensamentos no trem I

Sujo, sim, sujo é como me sentia.
Eu, naquela estação tão movimentada e quente, criança chata do meu lado, falando alto, como são irritantes as crianças. Olho nos olhos dela, ela faz uma cara de antipática e aponta pra mim, a mãe a repreende: "Filha, é feio apontar!"
Irritado. Estava irritado.
Chega o trem. Maravilha, cheguei no horário! No horário certo de pegar um trem lotado, não tenho onde colocar as mãos. Tudo bem, quando eu era criança competia com meus irmãos no ônibus quem conseguia ficar de pé sem se segurar. Melhor ainda, não ter que segurar naqueles ferros pegajosos! Tanta gente ao meu lado e eu me sentia completamente solitário. Queria berrar, queria sair de mim, me refugiar, cadê meu cigarro?
Tateei o bolso. Tudo sob controle.
Uma velha dormia de boca aberta. Esta deve ser uma das cenas mais pavorosas com as quais nos deparamos no decorrer do dia. Sempre me esforço para não dormir em trens para não correr este risco. O trem pára, chegamos à última estação da linha, o que quer dizer que todos que se encontravam no vagão lotado saem ao mesmo tempo. Me sinto fazendo parte de uma boiada, ou qualquer coisa alienada e obediente. Todos obedecem às placas da plataforma indicando o caminho, todos se acotovelam para subir uma escada larga. Parece uma substância pegajosa escorrendo por um ralo lentamente, todas aquelas pessoas sem expressão seguindo cegamente para cima, para a saída, para a outra linha, para a rua.
Ajeito minha mochila que estava incomodando nas minhas costas. Saio da estação. A cidade berra em volta de mim.