Looking through a Glass Onion

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When I get to the bottom I go back to the top of the slide, where I stop, and I turn, and I go for a ride

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Pensamentos no trem I

Sujo, sim, sujo é como me sentia.
Eu, naquela estação tão movimentada e quente, criança chata do meu lado, falando alto, como são irritantes as crianças. Olho nos olhos dela, ela faz uma cara de antipática e aponta pra mim, a mãe a repreende: "Filha, é feio apontar!"
Irritado. Estava irritado.
Chega o trem. Maravilha, cheguei no horário! No horário certo de pegar um trem lotado, não tenho onde colocar as mãos. Tudo bem, quando eu era criança competia com meus irmãos no ônibus quem conseguia ficar de pé sem se segurar. Melhor ainda, não ter que segurar naqueles ferros pegajosos! Tanta gente ao meu lado e eu me sentia completamente solitário. Queria berrar, queria sair de mim, me refugiar, cadê meu cigarro?
Tateei o bolso. Tudo sob controle.
Uma velha dormia de boca aberta. Esta deve ser uma das cenas mais pavorosas com as quais nos deparamos no decorrer do dia. Sempre me esforço para não dormir em trens para não correr este risco. O trem pára, chegamos à última estação da linha, o que quer dizer que todos que se encontravam no vagão lotado saem ao mesmo tempo. Me sinto fazendo parte de uma boiada, ou qualquer coisa alienada e obediente. Todos obedecem às placas da plataforma indicando o caminho, todos se acotovelam para subir uma escada larga. Parece uma substância pegajosa escorrendo por um ralo lentamente, todas aquelas pessoas sem expressão seguindo cegamente para cima, para a saída, para a outra linha, para a rua.
Ajeito minha mochila que estava incomodando nas minhas costas. Saio da estação. A cidade berra em volta de mim.

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