Looking through a Glass Onion

Minha foto
When I get to the bottom I go back to the top of the slide, where I stop, and I turn, and I go for a ride

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Clarice Lispector (tadinha!)

Estava nas minhas andanças pelo orkut e eis que me deparo com um texto de um profile. O texto é o seguinte:

"A menina que aos poucos foi trocando a barbie por maquiagem. Trocando seu mundo de sonhos pelo da realidade. Hoje sua vida segue em frente...O passado não importa.Ela vive o presente!!!
A garotinha que cansou de acreditar que contos de fadas começam com “era uma vez” e terminam com “um final feliz”...
Sou muito mais que essas letras, frases e fotos que falam sobre mim...
Sou as minhas atitudes, os meus sentimentos, as minhas idéias...
O que realmente faz valer a pena estar vivo, não há filmadora ou máquina fotográfica que registre...
Surpresas, gargalhadas, lágrimas, enfim, o que eu sinto, quem eu sou, você só vai perceber quando olhar nos meus olhos, ou melhor, além deles...
Posso até ser pequena pra quem vê...Mas gigante pra quem ama!!!"


O texto era exatamente escrito assim, com todas essas reticências. Quem me conhece sabe como sou irritada com esses textos todos pontilhados. A galera não sabe usar reticências, e acha que quando vai fazer um desabafo PRECISA desse tom melancólico-deprimido-arrependido que as reticências em excesso podem dar. É um horror, uma cagada.

E aí li o nome do(a) autor(a). Clarice Lispector. CLARICE LISPECTOR. Alguém percebeu algo de errado? Coitada da Clarice.
Bom, vamos fazer uma análise do texto.

1. O fato da menina trocar a barbie pela maquiagem quer dizer que ela deixou os sonhos pra adentrar a realidade. Quer dizer que, primeiro, a infância é irreal, e segundo, a realidade é a maquiagem. Podemos entender, diante disso, que o sonho sublime da garota é tornar-se uma adulta igual à Barbie. Viva a realidade!

2. "A garotinha que cansou de acreditar que contos de fadas começam com 'era uma vez' e terminam com 'um final feliz'..." OK. Em vez da idiota entender que contos de fada são ficção, a menina decide interpretar que tudo bem, contos de fada existem, mas não têm final feliz! Ó meu Deus! Como é triste a vida. Ela decide viver a vida como se tivessem capítulos, em vez de entender que a vida é contínua e complexa demais pra caber na linearidade da narração.

3. Já no meio do texto encontramos o crème de la crème do pensamento sublime da garota. Ela é muito mais do que essas letras, frases e fotos podem falar! Fotos não dizem tudo o que ela é. Podemos notar que esse texto é muito marcado pela geração orkut. A marca da vida como fotografia, da vida como registro, do "só vivi pq tem foto", só foi possível hoje, e obviamente a Clarice Lispector nunca escreveria isso. Porque isso simplesmente não era parte da vida naquela época! Ela viveu a infância na década de 20, é de se supor que câmeras fotográficas não eram o objeto mais portátil que se pode imaginar, naquele tempo.

4. Por fim, vamos comparar fatos.
Barbie: A barbie foi criada por Ruth Handler e o seu marido Eliot em 1959. A ideia foi de Ruth ao ver sua filha Barbara brincando com bonecas de papel que trocavam de roupa. Ruth então teve a ideia de criar uma boneca que iria permitir o mesmo, ou seja, trocasse de roupa. Associando-a à moda, a Barbie tinha uma feição adulta, diferente das bonecas da época. Assim, a imagem da Barbie sempre foi a de uma top model, símbolo de beleza refinada e juventude.

Clarice: Clarice Lispector, nascida Haia Lispector (Chechelnyk, 10 de dezembro de 1920 — Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1977) foi uma escritora brasileira, nascida na Ucrânia. Autora de linha introspectiva, buscava exprimir, através de seus textos, as agruras e antinomias do ser. Suas obras caracterizam-se pela exacerbação do momento interior e intensa ruptura com o enredo factual, a ponto de a própria subjetividade entrar em crise.

Bem... a Clarice Lispector não deve ter brincado muito de Barbie com 39 anos HAHAHAHAHAHAHAHHAHA.


E fim de papo.

3 comentários:

Claucio disse...

Que apresentação, que apresentação. Mais um dos textos que, se não fosse a acinatura do famozo, ninguém daria crédito. Por que não escreve à garota, só essa parte lógica da vida de Clarice? Ou melhor: que a garota tenha o que a barbiaridade merece,que é encontrar o famigerado príncipe encantado: Quem.

Laís disse...

muito boa a análise. Para os ainda duvidosos, acredito ter esclarecido alguns pontos né? rsrsrs

Anônimo disse...

Realmente ter a capacidade de captar a profundidade das palavras de uma autora super conceituada não é privilégio de muitos... Sobremaneira é mais fácil criticar o trabalho alheio, o sucesso alheio...
Toda essa análise não levou a lugar algum e os que aplaudem, com certeza não tem censo de crítica nem opinião própria...
Reticências e Clarice Lispector... ... ... ... Adoroooo!!!