Looking through a Glass Onion

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When I get to the bottom I go back to the top of the slide, where I stop, and I turn, and I go for a ride

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Luz dos olhos

Uma linha curva brota no papel. A partir dela, uma outra, que a encontra no final. Vou preenchendo com a caneta, sem presa, preto, preto, preto, e aquilo vai crescendo na minha mente e na minha visão. É meu mundo que está saltando a olhos vistos, saltando, pulando, tão belo, me agrada, é tudo aquilo que tem dentro de mim.

Assim vão surgindo várias partes de mim.
Pedaço de mim, que me arranca do meu sono, vai circulando, me envolvendo, vou parar pra olhar pra sacada. Às vezes a visão me surpreende. Mesmo. Mesmo sendo São Paulo, mesmo sendo às vezes meio marrom no horizonte (horizonte marrom? que porra é essa?). Consigo enxergar todos os movimentos da atmosfera, porque aqui é alto. E aí eu vejo as faixas de chuva que vão se mexendo, vão embora, voltam, ficam... E circula, circula, circula.

Os círculos vão me fechando.
São círculos concêntricos, mas o que há no de menor diâmetro? Não consigo enxergar. Estou no alto, e só vejo o círculo externo.

Cadê o círculo pequeno? O que há nele? Tenho consciência de que é nele que está a resposta. Mas não sei bem a pergunta, acho que já a esqueci. É bem provável...


Circulando.. Fluindo! Tudo o que me motiva é fluido. Não quero nada opaco, imóvel, irritante. Gosto do barulho de circular.......

E aí eu páro. Não está saindo do jeito que eu queria.
Eu costumava começar a escrever, e uma hora começava a sair algo que eu gostava. Eu cortava o começo e dali surgia algo que eu dizia "Isso é bom!" e ficava feliz. Mas não sei se é esse o caso! Nada está surgindo, mas eu vejo símbolos, eu me vejo aqui, nessas linhas. Nos círculos, no que é fluido, no que é mistério.

Vou me descobrindo ar. Sempre fui a garota do vento, e de repente me encontro brisa. Sempre circulando...
Leveza, fluidez, oculto.

Quero ser leve. Quero flutuar, criar, me permitir planar na minha mente, mas o que é isso que está me puxando? O medo de voar pela primeira vez, velho conhecido de nós todos, de toda a história, medo de voar.....

Circulando.

É belo o que vês? Queria abrir tua cabeça para enxergar como enxergas, porque o brilho nos olhos é tão intenso, há de ser algo bonito que está à sua frente!

E pela primeira vez falo em "tu", já que sempre pensei em "eu".
O mundo de "tu" é mais bonito que de "eu", e eu o invejo, e eu o desejo. A ti. A todos os "tis", porque o que há de beleza no mundo é o que na retina transparece.

Uma supresa agradável: consigo ver os olhos. consigo olhar nos olhos. São belos, estes! Olhos que não me incomodam e não me questionam, mas que enxergam, não posso me disfarçar de ti. Já nesse caso, não existem mais "tis", unicamente um "ti", e só um.

Cadê os olhos? Não me aparecem, eu os procuro, não os conheço, não sei onde achá-los, será que existem? Será parte do que existe na minha própria retina, minha própria fantasia que mostro pro mundo, meu universo que cria, sempre circulando, sempre ondulando, sempre ventando?

Olhos que somem. Se fazem fumaça, se espalham pelo ar, se misturam ao vento, ao vento? Não sou eu o vento? Então acontece o improvável: o vento se faz brisa, e circula, circula, reúne a fumaça, refaz os olhos, transforma a retina, implode em pedacinhos de asas.

Teve medo de pular? Teve medo de voar? É difícil de dizer. Agora me refiro a "ele", ou "ela", ou até mesmo "eles". Sim, acho que tiveram medo de planar, ouso dizer que pensaram em voltar pé ante pé, sempre longe da fronteira, pé ante pé pra trás do penhasco, pé ante pé sempre pra trás.

"Ela" vai pular. "Ele" pulará? Examinemos as retinas de ambos.
Ela tem a retina brilhando, colorindo e pulsando. O sangue bate nos olhos, pede por lágrima. Ele. Não se enxerga sua retina. Vê-se a íris inundando tudo, e o preto dos olhos se mistura à pupila, posso ler sua alma. Criptografada. Que belo!

Pulem, os dois. Peço-lhes, voem, mas cadê os olhos? Cadê os olhos que implodiram junto com o vento, a fumaça, pequeninos pedaços de asa?

Digo: "Parece sonho."
Diz: "Parece sonho."
Digo: "Vou voltar a ser vento; se assim for preciso serei tempestade, se assim me pedirem serei brisa. Volto a ser ar, atmosfera e a flutuar. Fluir. Não aguento mais terra, mãos sujas de barro, unhas cheias de pedrinhas; não aguento mais chão duro que dói o calcanhar, vou viver descalça."
Diz: "Pois bem. Posso ir com você. Serei a energia que faz da brisa vento, do vento vendaval, do vendaval furacão. Podemos juntos ser círculo, muitos círculos, sempre ondulando... Aceito tua presença."

Não digo mais.

Quantos casamentos assim se fizeram? União de movimentos, energias que se infinitam, existe beleza nas forças.

O pequeno círculo que está bem no centro do grande círculo, aquele que é muito pequeno, que quase não se enxerga. Bem dentro dele existe um ventinho... E é desse ventinho que vão respirando os mistérios da alma, aqueles tão profundos que nem ousamos perguntar. O ventinho vai ventando, vai subindo, invadindo um outro círculo, este um pouquinho maior, e vai subindo, até chegar na retina. O ventinho vira água que faz brilhar o branco dos olhos. Por apenas um segundo!


E foi nesse segundo que quase se afogou. Cadê os olhos?

2 comentários:

Claucio disse...

Três pensamentos metafóricos que me ocorreram e uma análise trocadilhesca. Permita-me.

I.
"Uma linha curva brota no papel. A partir dela, uma outra, que a encontra no final. [...] É meu mundo que está saltando a olhos vistos, saltando, pulando, tão belo, me agrada, é tudo aquilo que tem dentro de mim."

>> A indefinição de ser-se algo espontâneo, sem rumo, sem...? Sempre achei você bem mutável e esse parágrafo mostrou pra mim que ou você está enaltecendo uma apologia a si, ou está questionando o achar-belo dessa personalidade.

Você não costuma se enaltecer...


II.
"Pois bem. POSSO ir com você. Serei a energia que faz da brisa vento, do vento vendaval, do vendaval furacão. PODEMOS juntos ser círculo, muitos círculos, sempre ondulando... ACEITO tua presença."

Eu hein! O cara quer ser uma sombra, isso sim. E na bondade da intenção, nada melhor que:

"Não digo mais."

Poder é diferente de querer. Aceitar é diferente de querer. Tudo bem que o amor aceita... na verdade, acredito que o amor mais brilhante não aceita, mas tolera. É diferente. Se o cara "aceita", quer dizer que ele coloca-se como possibilidade de refúgio. Mas é ele quem tem o poder de decidir se será o seu refúgio?

"Quantos casamentos assim se fizeram? União de movimentos, energias que se infinitam, existe beleza nas forças."

E quantos não se desfizeram porque uma das pessoas aceitou ser o refúgio?

Mas aí está, porém, uma simbologia bacana. Refúgio é algo material, mesmo com fins espirituais. E a matéria é representada pelo elemento terra.

Já o elemento ar, podemos pensar como os ventos e seus movimentos. Pois os ventos não são, simplificando, o mero deslocamento de um ar mais frio onde há/havia o ar mais quente? Seria o movimento da garota-vento um impulso automático em busca de eterno aquecer-se? Ou ascender-se?

E aí combina ar com terra, porque o aquecimento da terra provoca o aquecimento do ar (e seu movimento na atmosfera), da mesma forma que, uma alma, quando se esfria, busca um refúgio, e desce...


III.
"Cadê os olhos?"

Pergunta entumescida de sentidos... Acho que você está querendo, no fundo, ter pra onde olhar. mas enfim, é só a impressão que o texto me passou. Existe a chance de você ter escrito em eu-lírico. Ou olhírico.


IV.
Nem todos pronomes, quando repetidos, são legais. Pense várias vezes em eu, e você terá uma distorção mental bem típica dos entorpecentes: eueueueueueu...

Já quem fala demais da pessoa com quem se fala, acaba ficando chata, sem interesse. O resultado é que a outra pessoa vai embora, não atende. È verdade! Basta pensar em tu, tu, tu, tu pra isso acontecer.

O curioso é que, se você falar muito na terceira pessoa, prevalece a segunda: puro tititi.


Beijo.
Em cinco velocidades do Crau.

Claucio disse...

Só corrigindo:

"E aí combina ar com terra, porque o aquecimento da terra provoca o aquecimento do ar (e seu movimento na atmosfera), da mesma forma que, uma alma, quando se esfria, busca um refúgio, e desce..."

Na verdade, a metáfora do aquecimento da terra é falsa, porque afinal, o cara é apenas um refúgio. O vento quente sobe, mas é o frio que se move na horizontal.

Não?

tu, tu, tu...